Thiago Barcellos
“A Seita Maligna”: cinema niilista à moda de Lucio Fulci

A principal característica de A Seita Maligna (16) é a de nunca se permitir óbvio, apesar da referência basilar no cinema de horror gore do romano Lucio Fulci.
Na Itália, país escravo do catolicismo, o cineasta romano Lucio Fulci produziu por volta dos anos 80, uma trilogia de filmes que carregavam forte conotação iconoclasta, sendo o corpo, o foco central.
Essas produções fragmentavam o realismo ao inferir a implacável presença do sobrenatural, desfilando o “corpo” sem o tão louvado “espírito”. Os filmes subvertiam o dogma da transcendência espiritual trazendo o colapso da matéria corpórea e transformando a alma humana em algo absolutamente supérfluo. Pois para além da evisceração e da devoração de entranhas, havia a fascinação religiosa pela carne.
Tendo como alusão o paroxismo estético de Terror nas Trevas (81) de Fulci, A Seita Maligna combina-se à mitologia ocultista de H.P. Lovecraft com o tom profético do livro bíblico do Apocalipse.

Além de se apropriar dessa estética em particular, o filme da dupla Jeremy Gillespie e Steven Kostanski se inspira na lógica irracional de um pesadelo, aproveitando-se de motivos místicos para subverter sua própria estrutura fílmica.
E em se tratando de estilo, essa é a escola que A Seita Maligna parece brilhantemente querer emular.