Thiago Barcellos
"Alice Não Mora Mais Aqui", Martin Scorsese (1974)
Atualizado: 19 de jul. de 2021

Um bom mas esquecido Martin Scorsese é ainda Alice não mora mais aqui.
A interpretação de Ellen Burstyn pós O Exorcista nos paralisa e nos deixa perplexos, na ponta dos pés. Aqui, Burstyn nos dá a dura história de uma viúva à deriva. Sozinha, com o filho para criar, ainda precisa alimentar seu sonho de cantora. Ela segue para sua terra natal, a Califórnia, mas acaba se estabelecendo em Tucson. Com tudo isso como bagagem, ela cai no mundo, emprega-se como garçonete e após ter sofrido dores mil nas mãos de homens abrutalhados, dá a volta por cima e mete a cara na vida. Um dia, encontra um simpático fazendeiro disposto a compreendê-la genuinamente.
O filme envelheceu bem, colaborando para dar densidade ao típico dramalhão caipira dos anos 70. Todas as personagens são tipologicamente bem dosadas através de uma competente direção de atores.
Estranho na filmografia de Martin Scorsese - já que seu protagonista não é ítalo-americano nem interpretado por Robert De Niro -, Alice não mora mais aqui é uma de suas mais importantes obras da primeira fase.

O filme está repleto de sequências brilhantes. Alice, à certa altura, tem um desentendimento com uma colega de trabalho. Após o imbróglio, tornam-se amigas e têm uma conversa deliciosamente franca enquanto tomam sol numa tardinha que parece custar a passar. A cena funciona perfeitamente. Há também a maneira específica como seu primeiro empregador ofereceu-lhe um emprego de cantora, e a maneira como Alice se despede de seus antigos vizinhos e a forma como seu filho insiste em explicar uma piada que só poderia ser entendida por uma criança de 12 anos.
São grandes momentos de um filme que nos dá Alice Hyatt: mulher, trinta e cinco anos, invicta.
Assistam, ponderem e esqueçam bobagens como Vivendo no limite e Kundun do mesmo Scorsese.