Thiago Barcellos
Bob Cuspe, de Angeli, vira stop motion e vai pra França!

Políticos, socialites, artistas, marqueteiros e patricinhas que praticam meditação. Uma turba que até tentou, mas falhou vergonhosamente. A resposta vinha diretamente dum esgoto com cheiro de enxofre na Paulista. De lá, se ouvia a onomatopeia "CUSP!".
Uma das crias máximas do grande cartunista Angeli, Bob Cuspe, apareceu pela primeira vez na revista Chiclete com Banana, um espaço criado para reverberar um humor assumidamente melancólico e niilista, que não se identifica com as intenções e/ou utopias revolucionárias da geração anterior.
O personagem de Angeli foi sua grande resposta aos excessos dos anos 1980, à hipocrisia reinante da elite cultural e financeira, à vida espalhafatosa e deslumbrada de todos os que vicejaram no Brasil após o fim da ditadura.
Tradução mais perfeita (e anárquica) da expressão "punk da periferia", Bob Cuspe, vai ganhar mundo, competindo na seção Contrechamp de Annecy, o maior festival de cinema animado do mundo, sediado na França desde 1960 e que começa em 14 de junho!
Bob Cuspe - Nós Não Gostamos de Gente, primeiro longa-metragem do animador paulista Cesar Cabral, feito em stop motion, técnica em que objetos são filmados quadro a quadro, dando-lhes movimento.
No filme, conta-se duas histórias: uma delas é a do cartunista Angeli, que revisa seu passado. A outra história é a de Bob Cuspe, o personagem punk criado por Angeli, que também tenta organizar suas memórias. Conforme a trama progride, as recordações e a personalidade dos dois começam a se entrelaçar a tal ponto que não se pode mais dizer onde começa o autor e onde termina o personagem.