Thiago Barcellos
James Dean, ator atemporal

Dia desses, vi uma moça com uma foto do James Dean estampada na camiseta.
Na mesma hora, me veio à cabeça o filme Vidas Amargas (1955) de Elia Kazan.
Vidas Amargas é baseado no último terço do romance de John Steinbeck, East of Eden, que por sua vez, utiliza como fundamento as ressonâncias bíblicas dos irmãos Caim e Abel do Antigo Testamento. Foi o primeiro dos três grandes filmes que sedimentaram a aura de mito em torno de James Dean.
Neste, Dean faz o filho caçula de um rancheiro da região agrária de Salinas, na Califórnia, que rivaliza com seu irmão mais velho, ao mesmo tempo em que suplica pelo afeto do pai puritano.
Kazan injeta o sopro determinante à obra de Steinbeck por ter escalado Dean como protagonista. Kazan como Hera, criou vida como na estátua de Pigmalião e dessa maneira, nós os espectadores conseguimos olhar com complacência e terror para aqueles seres que sabem muito bem o mal que se fizeram, que se destruíram em família, mas que, ainda assim, são parte uns dos outros.
Muito se fala, ainda hoje, do triunvirato, James Dean, Juventude Transviada e seu diretor, Nicholas Ray. Estes não revolucionaram em si, nada.

O sucesso de público e crítica é indubitável, claro. Mas estamos falando apenas de uma síntese revolucionária.
Dean, o homem, era apinhado do cinismo, da rebeldia dos anos cinquenta e da autocomiseração (típica do pós-guerra).
Seu modo de andar (assim como o de Marlon Brando em Uma Rua Chamada Pecado) era vulgar (num bom sentido) e tudo nele nos dava a impressão de que dormiu vestido.
Se estivesse na França pareceria cidadão francês; na Grécia profundamente grego. Dean assumia uma cor que o fundia com o fundo, como um réptil recostado numa pedra.
Estamos falando aqui indiscutivelmente de um nômade.
Dean carregou nos ombros as dores lancinantes de uma juventude transviada, além de vivê-las à flor da pele nas profundezas do espírito. E também brincou de fantoche com o tempo, que está ao seu lado até hoje.