Thiago Barcellos
Max Von Sydow: incansável e saudoso

Em Hollywood ele sempre foi um estrangeiro.
E estrangeiros invariavelmente dão bons vilões com sotaques sinistros. Mas nem sempre foi um antagonista, ocupando também o lugar dos sábios e das figuras misteriosas.
Esse Max Von Sydow, nascido na Suécia em 1929, ator de quase dois metros de altura e olhos azuis penetrantes.
A partir do final da década de 1960 deixou as fronteiras escandinavas e percorreu os quatro cantos do mundo. Encarnou Jesus em "A Maior História de Todos os Tempos", de 1965, ao lado de outro colosso do cinema, Charlton Heston.
Em "O Sétimo Selo", Sydow interpretou um cavaleiro medieval regresso das cruzadas que propõe à Morte uma partida de xadrez para ganhar tempo, a fim de encontrar conforto para a angústia de sua própria existência.

Com uma voz de barítono que impunha respeito e classe à maioria dos filmes que fez fora da Europa, como em "O Exorcista" (no papel do Padre Merrin), o mais mítico entre os seus trabalhos americanos, Sydow transmitiu pelo olhar austero, pela dureza na postura a angústia que corrói a alma de um homem de fé.
Incansável, juntou-se a space opera "Star Wars" em 2014, no papel de Lor San Tekka, próximo à família Solo, no sétimo episódio, "O Despertar da Força", antes de interpretar o Corvo de Três Olhos na série de sucesso global "Game of Thrones".
Estranhamente, foi pouco premiado. Foi indicado apenas duas vezes ao Oscar por seu papel em "Pelle, o Conquistador", de 1987, filme de Bille August, e por seu papel de coadjuvante no filme do britânico Stephen Daldry "Tão Forte e Tão Perto", de 2011.
Quando morreu, foi o fim de uma era para o cinema não só sueco, mas mundial.