Thiago Barcellos
Nova animação francesa da Netflix pergunta por que as pessoas escalam o Everest

Adaptado de uma série de mangás de meados dos anos 90 de Baku Yumemakura, Viagem ao topo da terra de Patrick Imbert, consegue repetir o tom arrebatador da recente animação francesa, Perdi meu corpo. Entretanto, sua influência mais formativa é apropriadamente japonesa: Studio Ghibli.
Viagem ao topo da terra leva os espectadores aonde as câmeras de cinema não viajam facilmente - para os cumes das montanhas mais altas do mundo.
Explico. O objeto que dá início ao enredo é uma câmera. Em um bar em Katmandu, um fotojornalista chamado Fukamachi é abordado por um estranho que lhe afirma ter em mãos a câmera que George Mallory levou ao Everest em 1924.
Mallory e seu parceiro de escalada, Andrew Irvine, não sobreviveram, mas as imagens que eles tiraram podem responder à pergunta que nunca calou: a dupla realmente alcançou o pico da montanha mais alta da terra?

Empregando uma estrutura de roteiro ligeiramente semelhante ao clássico Cidadão Kane, a primeira metade do filme se alterna entre as investigações de Fukamachi sobre o que motivou o desaparecimento de um certo Habu - um terceiro alpinista misterioso -, com o conteúdo da câmera servindo como o equivalente funcional ao Rosebud do filme de Orson Welles.
Patrick Imbert, fazendo sua estreia como diretor, trabalha uma paleta de cores suave que parece dever mais a certos artistas de anime do que as ilustrações texturizadas do mangá original. Diz-se que Imbert se inspirou no cineasta Isao Takahata de O túmulo dos vagalumes, entre outros.
A estrutura temporal da animação de Imbert é sutilmente colocada vários anos antes da descoberta do corpo de Mallory - sem a sua câmera, em 1999. Em termos limitados - capturando a fisicalidade do alpinismo dentro do meio etéreo da animação - Viagem ao topo da terra é distinto de tudo o que se já viu.