Thiago Barcellos
O cinema de lágrimas amargas de Rainer Werner Fassbinder

Com As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972), o cineasta alemão Rainer Werner Fassbinder, fez desse filme um cinema de estilo, cínico com os de espírito pobre.
É a história de uma estilista internacional que cai em decadência física e psicológica depois de pedir o divórcio e afundar-se num amor destrutivo por uma mulher.
A obra critica um certo conservadorismo feminista (já nos anos 70, pasmem), e suas terríveis implicações.
Fassbinder filma a ruína de alguém que acreditava no arco-íris e na bondade intrínseca do ser humano – seja este homem, seja mulher.
Trata-se, sem exagero, de uma das mais sérias representações da homossexualidade feminina no cinema. O melhor: sem ideologias rasas de internet e discursos chatolas de “igualdade de gêneros”.

O cineasta ri da sociedade – não só a germânica, dita civilizada – e ainda põe Freud e Rycroft abaixo quando estes, em seus escritos, diziam que o homossexualismo não é substantivo, mas adjetivo.
Ou seja, ao se escavar a alma do indivíduo, havia ali as pistas de algo muito mais profundo.
Freud falava de um certo desenvolvimento emocional atrofiado; Rycroft escreveu que o homossexualismo era sintomático de quem tinha severos transtornos de identidade.
Pra muitos, ser homossexual é como uma carta ruim que se tira no jogo da vida.
Pra Fassbinder, homossexual, não.