Thiago Barcellos
O fim das coisas memoráveis

Um dia, tudo isso ruirá
e o tempo,
as colunas de realidade
e a matéria em convulsão ardendo para se definir
perecerão
e serão
memória.
As pessoas que andam na pracinha,
as tolas,
as más,
as caridosas,
os velhinhos de molho com suas cuidadoras,
o ateu,
o sol que se afunda no ocaso à tardinha,
a lua,
o neurocirurgião,
o palhaço no semáforo com seus malabares,
os manifestos de arte moderna,
os substantivos,
a foto da tua primeira comunhão,
as revoluções com suas balas de borracha e seus lacrimogênios,
a estátua do Deodoro da Fonseca,
os fósseis de Velociraptor do museu do Cairo.
Até os joões de barro – ouça bem: até os joões de barro com suas casas vermelhas –
serão memória
e
não resistirão e sucumbirão.