Thiago Barcellos
Olhos de abelha

O Espírito da Colmeia (1973), de Victor Erice, é a história de duas menininhas moradoras de um pequeno povoado bucólico na região de Castela na Espanha em dias negros da ditadura franquista.
Um dia, a cidadezinha fica em polvorosa com a chegada de um cinema ambulante trazendo consigo a projeção de Frankesntein, o clássico “filme de monstro” da Universal Pictures de 1931.
Tudo em O Espírito da Colmeia é alusivo e alegórico.

A casa das protagonistas possui as janelas emolduradas em um dourado brilhante como os alvéolos de uma enorme colmeia.
Frankenstein, a criatura aterradora, é uma sólida referência ao déspota Francisco Franco que comandou com braço de ferro o país de 1936 a 1975 transformando a Espanha em uma nação disciplinada, doutrinada e com papéis sociais bem demarcados.
A obra versa ainda sobre as agruras infantis de duas crianças de olhares tristonhos e de espíritos inconciliáveis frente a essa sociedade hierarquizada, totalitária e alienada.
O filme, captado por uma luz solar rara, é o retrato de um sonho.