Thiago Barcellos
"Operação França", Gene Hackman, um chapéu e a terra de ninguém moral na era Watergate
Atualizado: 19 de jul. de 2021

William Friedkin, com seu Operação França, capitaneou o sonho secreto de todo cineasta: conceber o filme policial definitivo.
A tal conexão francesa, que aconteceu entre os ano 70 e 80, dominava o tráfico a partir de Marselha, exportando droga para os EUA. Friedkin conta parte dessa história, num filme que papou os principais Oscars do ano – filme, diretor, ator (Gene Hackman), roteiro adaptado e montagem. A história real (ou uma outra parte dela), foi retomada, anos depois, por John Frankenheimer em Operação França 2, que teve uma repercussão fraca, o que considero uma injustiça crassa.
Gene Hackman é a nuance nevrálgica, o cerne desse thriller de detetives e de belas sequências de perseguições automobilísticas. Lotado de ambiguidades deliciosas, a obra nos leva para uma terra de ninguém moral em plena Era Watergate.
Hackman faz o marcante detetive Popeye Doyle e que usa um indefectível chapeuzinho.
Décadas depois de lançado o longa, o cineasta em entrevistas, confessou que foi irresponsável, filmando cenas eletrizantes sem nenhuma segurança, e que não sabia explicar como, apesar de tudo, as sequências não tiveram "grandes acidentes". Em suma, o que ele quis dizer é que ninguém veio a falecer.
Mas uma das coisas mais notáveis nessa obra é o chapéu usado por Gene Hackman: algo desajeitado, um todo redondo, das abas ao corpo e que fica estranhamente bem acomodado em sua cabeça. No cume do crânio, o acessório parece tornar o corpo inteiro uma coisa em total desmedida, um inconveniente, um descompasso com o mundo.
Todo mundo pensa que é difícil ter grandes (e novas ideias) no cinema. Tolice. São esses achados, como é o caso do tal chapeuzinho, é que fazem uma obra cinematográfica se manter viva por décadas a fio.