
Thiago Barcellos
Superman e cia: um final de semana deprimente num outubro longínquo

Para certas produtoras de jogos de vídeo game, a ingenuidade, assim como a mediocridade, é uma constante histórica.
É o que eu carinhosamente apelidei de "toque de Midas dos estábulos". Ao mínimo contato, ao invés de ouro, tudo se transmuta em estrume.
E a Sunsoft foi quem dessa vez pagou o pato (ou engoliu o protozoário): foi fazer dobradinha com a Acclaim e se afogou numa cascata de fezes.
E nem é só a jogabilidade que parece advir diretamente dum aterro sanitário. Essa, mesmo travada como múmia em sarcófago, não é do males o pior. Os personagens é que são, de alto a baixo, fuleiros. Vide o Superman, por exemplo. De tanto cheirar kriptonita, resolveu usar uns mullets incompreensíveis.

Mas isso não esgota a gama de sentimentos que esse tolete de cocô me transmite, que vai da indiferença ao desgosto, passando pelo tédio.
É com clareza meridiana que não me furto à queixa: Justice League - Task Force de Mega Drive é claramente tosco, dos efeitos sonoros aos golpes, recorrendo ao expediente pouco ético de (tentar) imitar Street Fighter 2.
Pra falar a verdade, nem sei o real motivo que me fez revisitar o jogo depois de décadas.
Masoquismo? Vai saber.
Voltei à adolescência, num final de semana deprimente daquele outubro longínquo.
Levar o cartucho da locadora pra casa e perceber o quão hediondo era, me rememorou toda dor e o vazio daquela tardezinha que custava a passar. Um troço pra lá de deprimente.
Um final de semana todinho acompanhado do Arqueiro Verde fantasiado de Peter Pan.
Justice League - Task Force é a rubrica da minha solidão e desespero, que parece me acompanhar do berço à cova.